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No G1

A Secretaria Estadual de Saúde informou que realizou 813.560 testes para verificar a presença do novo coronavírus desde o início da pandemia. Desse total, foram apenas 76,6 mil exames PCR, tipo de teste mais eficaz. Governo Federal diz que enviou mais de 1,2 milhão exames para o RJ. Estado nega

Com aproximadamente 17,2 milhões de pessoas morando no Rio de Janeiro, o governo estadual só realizou testes para checar a presença do novo coronavírus em menos de 5% da população. Mesmo com poucos testes, o decreto que proíbe as aulas presenciais na rede estadual de ensino só vale até o próximo dia 5 de agosto.

Os colégios estaduais ainda não têm data para retomar as aulas, já que o decreto ainda pode ser ampliado e a decisão depende das prefeituras. Na capital, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) já liberou a facultativa da reabertura das escolas particulares, o banho de mar e ampliou o horário de funcionamento de bares e restaurantes.

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Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a rede pública fez 813.560 testes no total. Foram 736.960 testes rápidos e apenas 76,6 mil testes PCR, que segundo os especialistas são os mais indicados para verificar se o paciente está com a Covid-19 no momento do exame.

Do total de testes feitos pelo governo estadual, 586.960 kits para exames foram distribuídos pelo Ministério da Saúde (MS). Ou seja, desconsiderando a ajuda federal, o estado só comprou 226.600 testes com recursos próprios.
No início de abril, o então secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Edmar Santos, anunciou em coletiva de imprensa que o RJ tinha comprado 1,2 milhão de kits de testagem rápida. Mas o número atual de testes realizados não bate com o anuncio feito pelo ex-chefe da pasta.

Tanto Edmar Santos, como o ex-subsecretário Gabriell Neves, são investigados por irregularidades em compras emergenciais – sem licitação – de 820 mil testes rápidos para detectar Covid-19. O total gasto para adquirir os testes foi de R$ 129,6 milhões.

Especialistas dizem que a estratégia mais eficiente para monitorar a evolução da doença e indicar como deve ser feito o processo de flexibilização das regras de isolamento social é a testagem em massa da população.

“Quanto mais a gente testar melhor vai ser a avaliação, mais informação a gente vai ter, até mesmo para que a gente possa identificar o mais rápido possível os pacientes e isolar os contaminados. Nesse cenário de flexibilização, é fundamental aumentar o número de testes”, disse o diretor médico do Grupo Dasa, Gustavo Campana.

Para Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do Laboratório Richet, os exames mais eficientes para verificar a presença do vírus não custam tão caro, quando são comprados em grande quantidade. Na opinião dele, faltou organização dos gestores para uma estratégia de testagem mais ampla.

“Aqui a questão talvez foi de falta de organização. Só cinco meses depois da chegada do vírus é que os laboratórios (da rede pública) conseguiram fazer uma quantidade maior de exames”, comentou Helio.

Como forma de comparação, o governo alemão testava cerca de 500 mil pessoas por semana nos meses de pico da doença. Mesmo considerando as dimensões de um país como a Alemanha, em comparação com um estado, é possível notar que foram adotadas estratégias diferentes de testagem em massa da população.
Segundo um relatório publicado na revista científica “Nature”, uma das mais importantes do mundo, a menor taxa de mortalidade por Covid-19 está diretamente associada a maior quantidade de testes realizados e a eficácia dos governos.

União diz que enviou mais testes
O Ministério da Saúde apresentou um número diferente de exames realizados no estado do Rio de Janeiro. Segundo o órgão federal, eles enviaram à Secretaria Estadual de Saúde do RJ um total de 1.237.272 testes.

Deste total, foram 588.392 de PCR e 648.880 testes rápidos. A última remessa direcionada ao Rio de Janeiro foi enviada no dia 28 de julho.

Total de testes enviados pelo MS: 1.237.272
Total de testes enviados pelo MS, segundo a SES: 586.960
Total de testes PCR aplicados pelo RJ: 76.600
Total de testes PCR enviados pelo MS: 588.392

Segundo o ministério, os testes são enviados para os estados aos poucos, devido a capacidade reduzida de armazenamento de cada laboratório.

O órgão federal lembrou ainda que a distribuição dos testes PCR para Covid-19 está sendo elaborada conforme solicitação, via Sistema de Insumos Estratégicos em Saúde (SIES).

A Secretaria de Saúde do RJ informou ainda que está previsto o envio de mais testes rápidos, sorológicos e kits PCR pelo MS aos estados, incluindo o Rio de Janeiro.

“A SES esclarece que a testagem em massa da população é uma estratégia a nível nacional, que deve ser definida pelo MS”.

Especialista aponta falhas
Para o infectologista Fernando Chapermann, professor da PUC-Rio, o Brasil e o Rio de Janeiro deveriam aprender com exemplos de outros países. Para ele, a falta de testagem em massa é um exemplo disso.
“Testes positivos confiáveis, poderiam ser utilizados para isolar casos positivos, manter esse grupo de quarentena, e orientar adequadamente a população. Mas o que preferimos fazer: casos suspeitos eram mandados de volta para suas casas, para ficarem aglomerados e sem o adequado distanciamento social, tornando o ambiente das casas um caldeirão de Coronavirus, ambiente ideal para disseminação e transmissão do virus”.

“Conseguimos falhar em todas as etapas: na identificação do caso, na seleção do caso, na testagem, na orientação e no cuidado da pessoa e da família”, Chapermann.

Apesar das críticas, o infectologista acredita que as medidas de flexibilização que vem sendo adotadas no Rio de janeiro não deverão retroceder. O médico acha que vamos aprender a conviver com o coronavírus, assim como aprendemos a conviver com outros vírus que não possuem vacina.

“Costumo citar o vírus sincicial respiratório – VSR, um pneumovirus, causador da temida bronquiolite viral. É uma causa de cerca de 60 mil casos por ano no Brasil, com cerca de 6 mil mortes. Não temos vacina, e acomete principalmente crianças até dois anos. No mundo são contabilizados cerca de 60 milhões de casos de bronquiolite anualmente com cerca de 160 mil mortes. Não vencemos o coronavírus ainda. Mas temos nosso sistema imunitário, capaz de nos proteger e de gerar uma imunidade permanente. Precisamos acreditar no nosso sistema imunológico. Como tudo que é humano, ele não é perfeito, tem falhas. Mas vem nos protegendo enquanto humanidade e enquanto seres vivos há milhares de anos”, comentou Chapermann.

Testes no setor privado
O G1 entrou em contato com trêsgrandes gestores de laboratórios de exames médicos no Rio de Janeiro e constatou que a rede privada realizou mais de 220 mil exames, entre março e julho.

O número é muito próximo do total de testes comprados pelo Governo do Estado (226 mil) com recursos próprios.

A reportagem reuniu dados do Grupo Dasa, responsáveis pelos laboratórios Alta; Sergio Franco; CDPI; Bronstein; Multi-Imagem; e Lâmina. Do Grupo Fleury, gestor dos laboratórios Labs a+; Clínica Felippe Mattoso; e LAFE. E acrescentamos os números do Laboratório Richet, que atende os hospitais da Rede D’or de saúde, incluindo os hospitais de campanha do Rio administrados pela rede particular.

Diante desse levantamento também foi possível observar a queda da taxa de positividade dos testes com o passar da pandemia.

Só no grupo Richet, que realizou 76 mil exames, a taxa de positividade dos exames PCR vem caindo gradativamente. Já os testes de sorologia, aqueles que indicam se a pessoa já teve contato com o novo coronavírus, subiu em junho e apresentou uma queda no mês de julho.

PCR: abril: 47%, maio: 35%, junho: 26% e julho: 10%.
Sorologia: abril: 7%, maio: 17%, junho: 21% e julho: 15%.

Já os exames realizados pelo Grupo Dasa apontaram uma taxa de positividade de 30%, durante toda a pandemia.

“Hoje em dia percebemos que diminuiu a quantidade de pacientes internados. E o estado não está fazendo muitos testes. Só faz em quem procura o hospital. Não testa a população. Faltou uma política de testagem mais ampla”, analisou Helio Magarinos.

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Foto: Mauricio Bazilio/SES