Reportagem da Fiocruz mostra que o Rio de Janeiro enfrenta uma situação crítica em relação à tuberculose. Em 2022, o estado registrou uma taxa de incidência de 68,6 casos a cada 100 mil habitantes, a terceira maior do Brasil, e também uma alta taxa de mortalidade pela doença. No ano passado, o RJ apresentou o maior risco de morte relacionada à tuberculose no país, com um coeficiente de cinco óbitos por 100 mil habitantes.
Esses números são alarmantes, considerando o tamanho populacional do estado e sua importância econômica nacional. A situação é atribuída a condições precárias de moradia, acesso limitado aos serviços de saúde e desigualdades sociais que contribuem para a disseminação da doença. A tuberculose está associada a ambientes insalubres e vulnerabilidade social.
Especialistas enfatizam a necessidade urgente de intensificar estratégias de controle e enfrentamento da tuberculose, incluindo investimentos em saúde pública, campanhas de conscientização, educação da população e fortalecimento do acesso aos serviços de saúde para diagnósticos precoces e tratamentos adequados. Parcerias entre órgãos governamentais, organizações não governamentais e a sociedade civil são fundamentais para implementar políticas eficazes de combate à tuberculose no estado.
Celina Boga, médica do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Ensp/Fiocruz, destaca o alto número de casos de tuberculose, especialmente no município do Rio de Janeiro, e a importância de garantir condições para que os serviços de saúde locais possam realizar diagnósticos e tratamentos adequados. Ela enfatiza a necessidade de garantir os direitos das pessoas com tuberculose, principalmente aquelas em comunidades de alta vulnerabilidade social, e destaca a importância da conscientização e identificação de casos para interromper a transmissão da doença. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito nessa luta contra a tuberculose.
O que diz a Secretaria de Estado de Saúde
Em 2021, foi lançado o Plano Estadual de Controle e Eliminação da Tuberculose (2021-2025) no Rio de Janeiro, com o objetivo de reduzir a incidência e mortalidade por tuberculose no estado. Em 2022, o governo estadual teria destinado R$ 19,5 milhões para custear a alimentação de pessoas em tratamento da doença nos 92 municípios do estado. Agentes da SES-RJ também fariam ações de capacitação de equipes de saúde em 16 municípios prioritários que concentram 86% dos casos de tuberculose, além de outros municípios com unidades prisionais. O plano conta, segundo a SES/RJ, com recursos de R$ 196 milhões, provenientes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e inclui ações de cooperação com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) para combater a tuberculose nos próximos cinco anos.
Retrocessos de 10 anos
De acordo com a enfermeira Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, escolhida para presidir o grupo Grupo de Assessoramento Técnico para a Tuberculose da Organização Mundial da Saúde – OMS, “a situação nacional é bem preocupante. Nós retrocedemos pelo menos 10 anos no controle da tuberculose. A gravidade, a mortalidade e o número de casos aumentaram. A pandemia de Covid-19 afetou várias doenças, a tuberculose entre elas. As pessoas atrasaram seu diagnóstico, então chegam ao serviço de saúde já com quadros mais graves. Além disso, houve aumento da pobreza, que é intimamente ligada à infecção’, disse Ethel em entrevista à revista Veja, veiculada ontem.
Conselho buscou dar visibilidade ao problema da tuberculose
Em 2017, 2019 e 2021, o Conselho Estadual de Saúde do Rio de Janeiro buscou apresentar a situação da tuberculose no estado através da realização de seminários específicos sobre a doença e seus agravos, inclusive nos seus aspectos impactantes no sistema prisional. Nas oportunidades, se pretendeu sensibilizar os conselheiros de saúde para atuar junto aos gestores dos programas municipais e serviços de tuberculose na construção de estratégias de enfrentamento, identificar e integrar os espaços decisórios e da assistência que interferem no cenário da tuberculose no estado do Rio de Janeiro, bem como discutir o desafio da construção de uma agenda integrada de enfrentamento da tuberculose.
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Observatório Tuberculose Brasil
Daniel Spirin Reynaldo/Ascom CES-RJ