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Apenas nos três meses primeiros meses deste ano, o número de casos de chikungunya registrado no estado do Rio de Janeiro é quase o mesmo notificado durante todo o ano de 2017. De janeiro a março de 2018, foram 4.262 notificações da doença, enquanto em 2017, 4.305. Na cidade do Rio de Janeiro, a região com maior número de notificações foi a zona Oeste, principalmente os bairros de Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz. Para o infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador e coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, não é surpresa o aumento de casos de doenças transmitidas por mosquitos durante o verão. Nos meses de março e abril, são registradas temperaturas ambiente mais elevadas e chuvas em abundância, que são dois fatores fundamentais para a proliferação dos mosquitos transmissores. 

“Como é de conhecimento de todos, temos elevados índices de infestação domiciliar do mosquito transmissor do vírus. Por outro lado, por se tratar de uma doença nova no Rio de Janeiro, também temos uma população com pouco contato com esse vírus, ou seja, com poucos anticorpos, fatores importantes para o aumento no número de casos da doença. Nesse momento, não podemos afirmar que estamos caminhando para uma epidemia, muito menos descartar essa possibilidade”, destaca Rivaldo.

Segundo o pesquisador, os quatro mil casos de chikungunya nesse período (de janeiro a março de 2018) é um número pequeno quando comparado ao de outros estados como, por exemplo, o Ceará, onde em um ano foram registrados mais de 100 mil casos da doença. “Se de fato nós caminhamos para uma epidemia de chikungunya no estado do Rio, esses números iniciais não são suficientes para fazer tal afirmação. Há que se considerar, no entanto, a provável existência de um número razoável de casos que ainda não foram inseridos no sistema de notificação. Caso ocorra, de fato, uma epidemia, devemos esperar que até o final do ano tenhamos números aproximadamente 10 a 15 vezes maiores que os que foram registrados até agora”.

Doença relativamente nova

Como trata-se de uma doença relativamente nova e a população ainda não criou anticorpos contra ela, é mais provável que os casos aumentem, ressaltou Rivaldo. Diante da inexistência de uma  vacina contra a chikungunya, afirmou, a única forma da pessoa criar anticorpos é sendo infectada pelo mosquito. Uma parcela das pessoas infectadas desenvolverá a doença e outra não apresentará manifestações clínicas.

“Nesse caso, a doença só poderá ser diagnosticada por meio de um exame específico. A chance de um mosquito infectado pelo vírus chikungunya encontrar uma pessoa sem anticorpos é gigantesca no atual cenário do Rio de Janeiro. Ao contrário da dengue, uma minoria da população do estado ainda não tem anticorpos contra algum dos quatro tipos do vírus”, explicou o pesquisador.

Curto prazo

A expectativa, de acordo com o pesquisador, é que com a redução das chuvas e da temperatura, os índices de infestação do mosquito não cresçam como no ritmo atual. “Mas quando voltarem as chuvas e também aumentar a temperatura, espera-se obviamente que os índices de infestação do mosquito voltem a se elevar, consequentemente, a intensidade da transmissão também tende a aumentar”, afirmou.

O pesquisador ressaltou ainda que a temperatura e as chuvas não são os únicos fatores da proliferação do mosquito. Ele explica que existem, também, condições macroambientais que favorecem o acúmulo de água em determinados locais: esse acúmulo vai servir como recipiente para a reprodução desses mosquitos.

“A dificuldade de manutenção do abastecimento de água para o uso doméstico de forma regular, em várias localidades do estado do Rio, faz com que a população não seja abastecida todos os dias. O problema é que no dia em que a água está disponível, as pessoas costumam acumular, muitas vezes, em locais inapropriados, criando potenciais focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti. Já em outras localidades, a coleta do lixo produzido pelos domicílios é muito deficiente, o que também faz com que os objetos que são descartados no meio desse lixo acumulem água, propiciando a reprodução do mosquito”, exemplifica.

Rivaldo comenta que não é possível podemos ignorar os elevados índices de desemprego registrados no Rio de Janeiro, contribuindo para que um percentual maior de pessoas permaneça em seus domicílios, tornando-se alvo dos vetores do vírus chikungunya. O pesquisador destacou ainda que o ambiente de violência existente em várias comunidades do estado do Rio de Janeiro é uma realidade que dificulta o desenvolvimento de das ações de controle do mosquito transmissor. O especialista conclui que há um conjunto de fatores, chamados de determinantes sociais, formadores de uma realidade epidemiológica que favorece a elevação dos índices desses mosquitos. “É o calor e a chuva, numa comunidade com enormes carências de infraestrutura urbana, na qual a coleta do lixo, os fornecimentos regulares de água para o uso doméstico são precários. Nessas condições, a fêmea do mosquito Aedes vem e deposita seus ovos”.